EXPOSIÇÃO . NARRATIVAS EM PROCESSO - Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural
NARRATIVAS EM PROCESSO - Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural
Curadoria: Felipe Scovino
Período: 19 de março a 21 de maio de 2016
Livre para todos os públicos
A exposição reflete sobre os inúmeros dispositivos do chamado livro de artista. Existem duas linhas que se cruzam nessa exposição: a primeira é apresentar historicamente a transição e as possibilidades de forma, linguagem e pesquisa que o artista instaura em diálogo com o livro, transitando entre charges, design para capas de livros, álbuns de gravura, livros-objeto e ilustrações em tiragem limitada para clássicos da literatura; e, a segunda é discutir uma nova relação para os conceitos de livro e leitor que o artista elabora nesse tipo de produção.

Chamo de dispositivos as vastas possibilidades de entendimento e fatura do livro. Incluo nesse escopo não apenas uma ação conceitual e/ou física no suporte livro produzida pelo artista, e que recebe uma tiragem limitada, mas também a ilustração de capas e demais intervenções gráficas realizadas pelos artistas nas publicações. Percebam que não quero confundir o que chamamos de livro de artista com simples livros ilustrados de grande tiragem com reproduções originais.

Interessa apresentar e discutir a transformação do formato de livro que os artistas produziram, em especial no Brasil, ao longo de quase 150 anos. O livro para além de conter histórias e narrativas atreladas à palavra, passa a problematizar o seu próprio espaço de ação – a página – e o seu formato. As intervenções gráficas, plásticas e conceituais que os artistas realizam também se constituem como um campo de provas para as suas trajetórias. A distância entre uma pintura e a produção de uma capa torna-se menor porque ambos dialogam com o espaço pictórico, e nesse sentido um novo leitor e espectador das artes visuais são construídos. A leitura se dá também através das imagens, do espaço gráfico elaborado, e a ilustração, em especial, não é mais simplesmente uma reprodução plástica e visual do que foi escrito pelo autor. Ela agora tem o seu próprio campo de atuação e liberdade criativa. Como um livro pode ser visto, representado e transformado? Como a participação e a invenção artística traçam fronteiras com a literatura e o design? Estas são algumas questões que a exposição quer levantar para o público.

A curadoria caminha por duas vias. A primeira é aproximar o que se pode conceber como livro de artista através das inúmeras possibilidades que a intervenção gráfica oferece, como por exemplo: o design para as capas; os álbuns de gravura; a charge, com o exemplo do pioneirismo de Angelo Agostini (1843-1910); e, as ilustrações para livros em tiragem limitada.

Agostini tem um núcleo dedicado à sua obra em virtude da sua importância histórica e pelo fato de ainda não ter um conhecimento pleno de seu trabalho no meio das artes visuais. Partindo de uma série de trabalhos publicados em suas revistas, que atuou entre o Segundo Reinado e o início do século XX e que em sua linguagem ácida traça a identidade de um Brasil que transitava entre os anos finais do Império e a sua nova condição de nação republicana e livre (?) da escravidão, seguindo por livros publicados durante o período modernista que tiveram capas ou ilustrações produzidas por artistas como, por exemplo, Di Cavalcanti (para Uma tragédia florentina, de Oscar Wilde, em 1924) e Cícero Dias (para Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, em 1937), passando por Flávio de Carvalho (para Poesias Reunidas, de Oswald de Andrade, em 1966), e finalmente chegando às intervenções feitas pelos poetas concretos entre os anos 1960 e 80, a mostra aborda distintas facetas do pensamento plástico na concepção gráfica e estrutural do livro. Percebam que o limite desse núcleo de trabalhos - anos 1970 - é o início do período de concepção dos chamados livros-objetos, que têm Augusto e Haroldo de Campos, Julio Plaza e Décio Pignatari como peças-chaves em sua concepção. Nos livros-objetos, observamos um diálogo com a prática escultórica assim como o anúncio para a abertura de uma produção, digamos, conceitual da linguagem do livro. A relação entre a poesia concreta e as artes visuais fundou uma nova forma de aparição do livro: ele toma uma forma escultórica na qual a palavra finalmente sai do plano e alcança a tridimensionalidade. Passamos a analisar palavra/poema/livro/escultura como algo indissociável. O livro não é mais apenas o lugar que guarda histórias mas se transforma também num objeto de intervenção plástica, resultando numa ampliação da ideia de uso e aparição da palavra. Poesia visual e os novos processos de construção do livro-objeto percorrem caminhos paralelos que volta e meia se cruzam. Invariavelmente são os mesmos artífices que estão pensando o poema também como objeto tridimensional.

A segunda via é apresentar os distintos formatos - materiais e conceituais - que o livro de artista apresenta na contemporaneidade, tendo os livros-objetos, que tiveram os poetas concretistas como artífices, como paradigma. Depois de um balanço histórico da produção integrada entre o artista e a página do livro, o segundo módulo, digamos assim, dialoga especialmente com a produção dos últimos 30 anos. É o momento em que o livro-objeto e a obra-livro ganham uma maior amplitude conceitual e experimental, multiplicando o entendimento entre registros visuais e os literários ou narrativos. Dentro dessa perspectiva, foram criados segmentos curatoriais para que essas visões pudessem ser melhor observadas. São eles: “Uma escrita em branco”, “Livros-objetos”, “Rasuras” e “Paisagens”.

Felipe Scovino
Curador
A mostra Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural, com obras pertencentes ao Acervo Banco Itaú, contém projeto curatorial de Felipe Scovino e reúne diversos formatos do que se pode conceber como livro de artista.

A exposição constrói um caráter histórico, passando por 150 anos desse tipo de produção no cenário brasileiro. O recorte da mostra é inédito e está sendo apresentado ao público pela primeira vez.

Criado há quase um século pelos fundadores do Banco Itaú S.A., o acervo tem hoje mais de 13 mil trabalhos, entre pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, instalações, livros raros, moedas e medalhas. Gerenciado pelo Itaú Cultural, esse importante conjunto cobre toda a história da arte brasileira, com obras referenciais de cada movimento e estilo.

A iniciativa dá continuidade a uma produtiva troca entre o Itaú Cultural e o Instituto Figueiredo Ferraz, e é importante para a história do Acervo Banco Itaú, pois confere reconhecimento ao constante trabalho que a coleção engendra, propagando-a por novos públicos.

Itaú Cultural
Estamos, no dia 19 de março de 2016, inaugurando o novo espaço de exposições temporárias do Instituto Figueiredo Ferraz com uma exposição de imensa importância – “Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú.” Essa importância se dá por duas razões: a primeira porque reafirmamos uma parceria cada vez mais sólida e produtiva com o Instituto Itaú Cultural que, nos trazendo a cada ano um recorte da sua coleção, dá a oportunidade aos visitantes de Ribeirão Preto e região de ampliar o conhecimento sobre arte com obras da maior qualidade e significância; a segunda é sobre a exposição em si que, com curadoria de Felipe Scovino, traz ao Instituto Figueiredo Ferraz, em primeira mão, uma das mais significativas coleções de livros de artista do país. Essa exposição, que inicia em Ribeirão Preto, segue depois para diversas cidades e países numa longa itinerância. Temos uma grande satisfação em apresentar essa exposição de grande magnitude e temos a certeza de que os nossos visitantes saberão entender e apreciar a oportunidade. Cumprimentamos o Instituto Itaú Cultural pela impecável atuação no cenário nacional, agradecemos pela confiança em nós depositada e temos enorme orgulho em participar desta importante ação em favor da cultura brasileira.

João Carlos de Figueiredo Ferraz
Presidente e Fundador
Instituto Figueiredo Ferraz
Rua Maestro Ignácio Stábile, 200 | Alto da Boa Vista | Ribeirão Preto | SP | Brasil
Terça a Sábado, das 14h às 18h | Entrada Gratuita
+55 16 3623 2261 | +55 16 3623 2262
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