EXPOSIÇÃO . METAMORFOSES
METAMORFOSES
Curador: Lorenzo Mammì
Período: 25 de março a 16 de dezembro de 2023
Livre para todos os públicos
Piso inferior:

A arte costuma tornar tornando complexo o que é simples, ambíguo o que é óbvio, estranho o que é banal. Esta exposição trata da maneira em que obras de arte modificam a percepção comum de formas ou figuras para gerar novas experiências. O ponto de partida são quatro trabalhos referenciais da coleção (2x2 de Fábio Miguez, Sem título de Iole de Freitas, Metade da fala do chão – piano surdo de Tatiana Blass e Seção Diagonal-versão 2 de Marcius Galan) cada uma privilegiando um procedimento específico: fragmentação, deformação, estranhamento, alteração pela cor.

Pela fragmentação e recomposição, figuras planas podem ganhar tridimensionalidade, módulos elementares podem gerar estruturas complexas; a deformação pode se valer de dobras ou torsões para gerar novas formas e volumes, que mantenham ou não a memória da forma originária; o estranhamento isola objetos ou cria associações inesperadas entre eles para que se tornem inusuais ou até inquietante; a alteração cromática modifica nossa percepção da luz e do espaço e pode até gerar a ilusão de objetos inexistentes, como na instalação de Marcius Galan.

A partir desses quatro critérios, organizamos as obras por conjuntos, embora muitas delas utilizem mais de um procedimento e possam, portanto, pertencer a mais de um conjunto. Neste piso, privilegiamos as três primeiras vertentes, a alteração da cor é abordada mais especificamente em parte do piso superior. Lembramos, no entanto, que a manipulação do material é apenas um meio, que cada artista utiliza para fins diferentes: toda obra é única, e nenhum trabalho bem-sucedido se reduz aos procedimentos adotados.


Piso superior:

Uma parte desse andar é dedicada à transformação de formas orgânicas, especialmente do corpo humano (na maioria dos casos, o corpo feminino). As manipulações do corpo podem ser tradicionais, como no caso da menina de Mokarita-teri retratada por Valdir Cruz; servir de instrumento de controle social e repressão, como a denunciada por Boushra Almutawakel e tematizada, em outro registro, por Adriana Duque; ser ditadas por desejo erótico ou angústia existencial, como muitas das representações artísticas modernas e contemporâneas. Em todo caso, quando se trata de organismos vivos, a transformação nunca é impassível: sempre envolve atração ou repulsa, vontade de domínio ou medo de ser dominado. Isso vale até para trabalhos que não remetem à organismos imediatamente identificáveis, como a escultura de Ângelo Venosa ou a fotografia de Sofia Borges.

A segunda parte do piso é dedicada à alteração pela cor: essa foi uma questão central da arte moderna desde, pelo menos, o pós-impressionismo (a homenagem a Van Gogh de Rodrigo Andrade poderia ficar também nesse andar); mas ganhou nova abordagem nas décadas de 1950 e 1960, em boa parte graças às pesquisas de Josef Albers e sua fundamental publicação de 1963: Interaction of colours. Na mesma época, Max Bill também passou a estudar o fenômeno da irradiação das cores. De lá para cá, essas questões ganharam um leque amplíssimo de aplicações, por técnicas e poéticas muito distintas entre si.

A escultura Casco (Shackelton) e o vídeo Casco 1 de Nuno Ramos são evidentemente relacionados, embora pertençam a períodos diferentes. Shackelton foi o capitão do navio Endurance, que ficou preso e foi esmagado pelo gelo durante uma expedição à Antartida; em Casco 1, três personagens com o rosto besuntado de parafina serram e recompõem de forma aleatória barcos de pesca, enquanto declamam textos do artista, para em seguida abandonar suas "composições" à força da maré. Fragmentação, deformação e estranhamento estão em jogo nessas obras, mas desta vez não é a obra que modifica a natureza e sim a natureza que desfaz a obra, devolvendo-a à indiferenciação originária. A metamorfose é o ciclo natural de que o trabalho é apenas um episódio.

Lorenzo Mammì
Rua Maestro Ignácio Stábile, 200 | Alto da Boa Vista | Ribeirão Preto | SP | Brasil
Terça a Sábado, das 14h às 18h | Entrada Gratuita
+55 16 3623 2261 | +55 16 3623 2262
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