EXPOSIÇÃO . HUIS CLOS
HUIS CLOS
Curadoria: Antonio Gonçalves Filho
Período: 02 de agosto a 20 de setembro de 2025
Livre para todos os públicos
O encontro de Iberê Camargo (1914-1994), Miguel Rio Branco (1946) e Goeldi (1895-1961) nesta exposição justifica por si a escolha do título Huis Clos, alusão a um mundo opressivo, sem saída de emergência. Todos são realizadores com rara consciência do trágico. Não o drama, mas a tragédia. Iberê Camargo amargou uma experiência existencial que o levou, no derradeiro período de sua vida, a pintar uma série como As Idiotas, débeis figuras violentamente banidas do convívio social. Miguel Rio Branco fixou em imagens o peso dessa decrepitude, voltando seu olhar para proscritos e deserdados sociais. Goeldi foi certamente uma referência para ambos.

A reunião de Iberê, Miguel Rio Branco e Goeldi não se dá apenas pela convergência de conteúdo temático, mas formal. Embora seja um nome internacionalmente consagrado por seu trabalho fotográfico, Miguel começou sua carreira como pintor. E segue pintando até hoje, como é possível atestar em Huis Clos. A exposição tem desde uma rara tela dos anos 1960 até pinturas recentes, além de obras inéditas próximas do universo de Iberê Camargo e Goeldi. Três trágicos nos trópicos.

No entanto, é preciso dizer que até mesmo Iberê começou lúdico. Um dos seus temas recorrentes é o dos "carretéis", brinquedos da infância do pintor que o conduziram da figuração à abstração. Há pelo menos um exemplo histórico dessa passagem na mostra, a tela "Fiada de Carretéis" (1961), mesmo ano em que Iberê ganhou o prêmio de melhor pintor nacional na 6ª. Bienal de São Paulo. Dos anos 1960 em diante, a pintura de Iberê passou por um adensamento matérico. E, a despeito do uso de tons menos crepusculares nos anos 1970, ele ainda recorreu à espátula e a uma paleta escura nessa década.

Há, na exposição, óleos dos anos subsequentes assinados por Iberê Camargo. Em termos comparativos, as primeiras telas de Miguel Rio Branco, pintadas nos anos 1960, em Nova York, fazem uso de uma paleta igualmente escura para mostrar um lado menos glamourizado da metrópole americana, o dos bairros marcados pela erosão urbana.

Nessas primeiras pinturas, Miguel Rio Branco antecipou o que viria a explorar em fotografias ancoradas na montagem cinematográfica. Como se sabe, ele também trabalhou com cinema, fazendo uso da sintaxe da edição tanto em suas pinturas como em suas instalações fotográficas.

Nesta exposição, Miguel faz citações diretas a artistas de sua predileção em obras como as fotografias Azul (homenagem a Yves Klein) e Morandi Perverso. Nos dois casos, cria-se um vínculo com a realidade por meio de signos pictóricos, o azul criado e patenteado em 1962 pelo francês Yves Klein, e a garrafa das naturezas-mortas de Morandi, ícone da sua obra.

Outros artistas referenciais para Iberê e Miguel poderiam ser mencionados, mas basta citar Goeldi como figura paradigmática. É a noite escura da alma de Goeldi que interessa à dupla. Nas quatro gravuras do artista presentes na mostra, esse desencanto ecoa em obras como Hell's diptych, de Miguel Rio Branco.

O díptico é quase uma representação metafórica do "huis clos" da peça homônima de Sartre e, por que não, de sua mais conhecida frase: "O inferno são os outros". Não é sem razão que os personagens de Goeldi viram as costas para esse mundo, escondidos nas sombras e consumidos pelo silêncio.

Antonio Gonçalves Filho
Curador
Blue Klein, 1993/2020 - Miguel Rio Branco
Impressão de jato de tinta sobre papel
78,8 x 78,8 cm
Pássaro Amarelo,1971 - Iberê Camargo
Óleo sobre tela
93 x 132 cm
Bilbao Furr, 1982/1995 - Miguel Rio Branco
Cibachrome sobre papel
61,5 x 91,5 cm
Rua Maestro Ignácio Stábile, 200 | Alto da Boa Vista | Ribeirão Preto | SP | Brasil
Terça a Sábado, das 14h às 18h | Entrada Gratuita
+55 16 3623 2261 | +55 16 3623 2262
Instituto Figueiredo Ferraz © Todos os direitos reservados