EXPOSIÇÃO . ESTRUTURA QUADRO: Trajetória em retrospectiva - 1998 a 2018
ESTRUTURA QUADRO: Trajetória em retrospectiva - 1998 a 2018
MARCUS VINÍCIUS

Período: 27 de outubro a 15 de dezembro de 2018
Livre para todos os públicos
A promessa de reconstrução
Taisa Palhares

Desde o final da década de 1990 a produção de Marcus Vinícius vem se desenvolvendo em torno do que o artista chamou de “estrutura quadro”: a compreensão da pintura como um suporte bidimensional que pode ser explorado a partir de seus principais elementos (moldura, tela, tinta, superfície, plano etc). A presente exposição mostra pela primeira vez uma seleção significativa desses trabalhos, o que nos permite vislumbrar a coerência com que ele persegue seu projeto, e ao mesmo tempo, sua diversidade. Em um olhar retrospectivo, pode-se afirmar que ele buscou ao longo dos últimos vinte anos repensar o local da pintura no mundo contemporâneo mediante aquilo que ela tem de mais específico, a saber, o seu fazer como um modo de produção. Entretanto, o que singulariza essa trajetória é que ao enfatizar a fisicalidade da pintura de uma maneira tão direta, o artista preserva aquele resto de autonomia que ainda pode ser percebido na arte, na medida em que não se deixa constranger por aquilo que poderia ser visto como um limite à criação.

O percurso se inicia com telas em grandes dimensões dos anos 1998, nas quais já podemos observar o artista lidando com um princípio de organização modular. São quadros em que a unidade é alcançada pela junção de partes, sem que a cor seja o foco do trabalho. Essas estruturas remetem à construção das paisagens urbanas presentes em um momento anterior de sua obra. A paleta de cores aparece reduzida ao cinza, branco, preto e laranja, um pouco de maneira aleatória, fazendo com que o observador se concentre nessa unidade fragmentada. Entretanto, o uso de tais tonalidades irá indicar também como Marcus Vinícius está interessado na questão da criação de volumes, algo que será explorado no decorrer dos anos 2000. Os trabalhos realizados entre 1999 e 2000 seguem o problema da estrutura da pintura. O artista explora a própria moldura e a forma retangular do quadro como elementos pictóricos, tangenciando pesquisas realizadas por artistas neoconcretos como Hélio Oiticica e Lygia Clark. Sua intenção é questionar o espaço da obra a partir das variações entre dentro e fora, cheio e vazio, partindo das possibilidades abertas por essa mesma estrutura-quadro. Contudo, aqui não encontramos a “tautologia do olhar” defendida pelos minimalistas norte-americanos. Ao contrário, parece que a intenção de Marcus Vinícius é revelar como o que poderia ser considerado o limite físico para a obra pode ser transformado numa abertura para situações infinitas de percepção. E é nessa possibilidade de abertura que o trabalho irá se instaurar.

Contudo, a meu ver será particularmente nas coloridas pinturas-objetos feitas em 2001 que o trabalho irá apontar para um caminho particular. Nesse momento, a cor passa a fazer parte da estrutura da obra de maneira muito significativa e potente. E em conjunto com a experimentação com novos materiais, como o vidro, a madeira, o MDF, o alumínio, Marcus Vinícius irá encontrar uma maneira de construir a espacialidade da pintura a partir da interessante conjunção entre trabalho artesanal e indústria. Pois se por um lado passa a delimitar o seu fazer por materiais pré-fabricados (que vão desde a escolha do suporte até o uso de tintas industriais), por outro, como observamos em uma de suas últimas séries, os Constructos (2014), a força está em retirar do conhecido e sempre igual, a diferença. É importante salientar que há uma tensão entre a regularidade dessas formas geométricas e a combinação inesperada de cores que ao longo do tempo se multiplicam por meio da utilização do vidro como mais um elemento de criação de volume.

Em 2008, Marcus Vinícius realizou uma exposição chamada Promessa de Beleza. Em certo sentido, a promessa está naquilo que pode ser realizado como potência, como um outro do que nos oprime na realidade cotidiana. Ou seja, a arte como promessa de felicidade, de uma possibilidade de construção singular num mundo no qual impera a padronização, a identidade, o sempre igual. Foi dessa maneira que diversos artistas e teóricos pensaram o lado utópico da arte desde a Modernidade. Não temos receio em dizer que Marcus Vinícius, com suas construções, coloca-se na esteira dessa tradição que vislumbra no fazer artístico uma força humana resistente à opacidade do real.
Ateliê do Artista
1998_1999
Foto: Mauro Restiffe
Vista da Exposição 100 Quadros
Galeria Marcelo Guarnieri - Rio de Janeiro, 2017
Foto: Pat Kilgore
Rua Maestro Ignácio Stábile, 200 | Alto da Boa Vista | Ribeirão Preto | SP | Brasil
Terça a Sábado, das 14h às 18h | Entrada Gratuita
+55 16 3623 2261 | +55 16 3623 2262
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